Grandes centros urbanos são frequentemente associados ao estresse, às longas distâncias, à poluição e aos engarrafamentos. Pequenas cidades, em oposição, são associadas à tranquilidade e à natureza. Porque então as grandes cidades mantém sua força, décadas após décadas? A resposta é simples: a metrópole, mesmo com seus profundos problemas, trouxe oportunidades, permitindo que milhões de pessoas – cada uma com suas características e potencialidades – pudessem interagir, criando uma rede de relações capaz de desenvolver o conhecimento e a técnica com uma velocidade sem precedentes, propiciando a melhoria da vida e do bem-estar de todos – dentro e fora dela.A lista de problemas associados aos grandes aglomerados urb anos, no entanto, é extensa. A falta de planejamento, a especulação imobiliária, a utilização de tipologias inadequadas ao clima e à cultura, a carência de sistemas de transporte público eficientes e a falta de infra-estrutura são problemas recorrentes e conhecidos por todos. Não são evidentes, no entanto, as formas de enfrentá-los. Mesmo inserido entre as grandes economias globais e destacando-se em alguns setores de alta tecnologia, o Brasil tem ainda pela frente questões básicas a tratar, como saneamento básico, habitação e transporte. É alarmante também a tendência de segregação espacial e social presente em nossas cidades, problema que se retro-alimenta, produzindo cidades cada vez mais inóspitas.Na iminência de dois grandes eventos de escala mundial, com economia estável e crescimento econômico sólido, é bastante clara a oportunidade para revisarmos o modelo de desenvolvimento urbano que desejamos, entender nossas experiências pregressas e acompanhar o que foi e está sendo realizado em outros países. Cabe a nós, arquitetos e urbanistas, a proposição de alternativas de menor impacto ambiental, que propiciem a coesão do tecido social e reflitam-se diretamente em benefícios econômicos para as populações afetadas. Dentro deste contexto, a recuperação de áreas centrais degradadas tem se mostrado uma alternativa bastante acertada, inclusive em cenários semelhantes – cidades que aproveitaram estes grandes eventos para qualificar seu espaço urbano e canalizar investimentos outrora dispersos. Cidades bem sucedidas em suas experiências de requalificação mostraram-se bastante preocupadas com a ambiência urbana, com a diversidade de usos, com a integração e a apropriação dos espaços. O Rio de Janeiro, epicentro dos grandes eventos que estão por vir, sede da final da Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, carrega consigo uma grande cultura de valorização dos espaços públicos e de convívio social. Em nossos estudos, vislumbramos a importância de articular o estilo de vida próprio do habitante do Rio com as necessidades da metrópole cosmopolita que ele habita.Nossa proposta aceita a metrópole, traça grandes gestos para grandes escalas – propõe a continuidade do passeio da orla, revitaliza uma grande avenida e insere um hotel cinco estrelas como um novo ícone na cidade – mas também valoriza a escala humana, os usos corriqueiros, cria interfaces, lugares do bate-papo e a praça da família e do passeio com o cachorro. Da articulação entre estas diferentes escalas surge a força deste projeto. Ao compatibilizar o trajeto metropolitano do ônibus com o trecho a ser percorrido de bicicleta, ao propiciar uma vista franca para todos os habitantes de uma área densamente povoada, ao permitir que os moradores realizem suas compras e usufruam seu tempo livre sem a necessidade de usar o automóvel, atestamos ser possível que a metrópole exerça sua função primordial: servir de ambiente para nossas vidas cotidianas.