Projetar e construir para o Brasil na Antártica.
Em certos lugares do planeta a natureza por vezes cria condições adversas para o corpo humano. Nestes locais, pensar um edifício é quase como construir uma vestimenta, um artefato que protege e conforta. Trata-se de um problema de desempenho tecnológico, mas que deve estar aliado à estética. Fazer o ser humano sentir-se bem é mais que trabalhar as noções de conforto e segurança, é também trabalhar os espaços nas suas dimensões simbólicas e perceptivas.
Um abrigo, um lugar seguro. A nova casa do Brasil na Antártica. Um lugar de proteção e reunião das pessoas para a produção do conhecimento científico.
Assim é encarada a tarefa de projetar a nova Estação Antártica Comandante Ferraz.
O vazio deixado pelo incêndio ocorrido em 2012 carrega de simbolismo a importância dessa nova construção; ela representa a presença brasileira na Antártica como possibilidade de contribuição científica em conjunto com a comunidade internacional. Representa também uma oportunidade de desenvolvimento tecnológico para a arquitetura brasileira e para a indústria nacional.
De outro lado, o processo de projeto nos leva a entender aos poucos a fragilidade da vida humana e como se deve agir para resolver problemas construtivos, funcionais e sensoriais. Nesse sentido, as decisões são tomadas de modo cuidadoso, pois é preciso respeitar a natureza e entender que há desafios a serem superados antes de se chegar ao edifício construído.
A presente proposta para a Estação Ferraz parte da interpretação do território e das condições geográficas da região. Sendo assim, a implantação dos edifícios propostos leva em consideração a topografia da Península Keller e as necessidades de preservação das áreas de vida animal e vegetal do entorno, entre outros fatores. Diversas condições previstas pelo Zoneamento Ambiental de Uso são respeitadas de modo a minimizar os impactos na natureza.
Os setores funcionais estão organizados em blocos que distribuem os usos. O bloco superior, no nível +9,10, abriga os camarotes, áreas de serviço e o jantar/estar. Ao bloco inferior, no nível +5,95, foram incorporados os laboratórios e as áreas de operação e manutenção. Este mesmo bloco abriga as garagens e o paiol central, localizados no nível +2,50.
Um bloco transversal, também no nível +5,95, reúne os usos social e de convívio. Neste trecho estão posicionados a sala de vídeo/auditório, a lan house, a sala de reuniões/videoconferência, a biblioteca, e o estar.
Os edifícios são suspensos sobre pilares reguláveis de modo a adaptar-se às mudanças provocadas pela variação de temperatura e ao degelo.
Quando implantados, os blocos principais, em conjunto com cafangoria, heliponto, garagem e tanques de combustíveis, definirão uma praça de logística ao norte do complexo principal. A implantação é completada com as plantas de painéis fotovoltaicos, também ao norte, e de turbinas eólicas VAWT a sudoeste.
Autores do projeto:
Emerson Vidigal (ESTÚDIO 41)
Eron Costin (ESTÚDIO 41)
Fabio Henrique Faria (ESTÚDIO 41)
João Gabriel Moura Rosa Cordeiro (ESTÚDIO 41)
Consultores:
Arq. Guido Petinelli, Conforto e Energia (PETINELLI)
Eng. Mecânico Eduardo Brofman, Conforto e Energia
Eng. Eduardo Ribeiro, Instalações
Arq. Carlos Garmatter, Segurança e Prevenção Contra Incêndio
Eng. Ricardo Dias, Estruturas
Eng. Bruno Martinez, Conforto e Energia (PETINELLI)
Eng. Andre Belloni, Conforto e Energia (PETINELLI)
Eng. Josiele Patias, Geotecnia
Colaboradores:
Arq. Dario Corrêa Durce
Arq. Moacir Zancopé Jr.
Martin Goic
Fernando Moleta
Alexandre Kenji
Rafael Fischer