A tipologia
constitui a base de toda comunicação entre o objeto e o homem. Os atos de
compreender e expressar são sempre fundamentados por um padrão que já existiu,
transformando o novo em uma releitura de algo passado e assimilado no decorrer
da história. A tipologia difere da concepção de padrão, já que este sugere
repetição e normas a seguir. O tipo, ao contrário, sugere intenção de quem propõe
e intuição de quem observa, criando formas que despertam a memória coletiva
para transmitir um discurso complexo e autêntico. Na arquitetura, o arquiteto
intenciona algo baseado em sua experiência ideológica e busca transformar
certos tipos de acordo com seu tempo, atualizando seu discurso ao propor o novo
ao mesmo tempo em que reflexiona sobre o existente.
Essa residência
ocupa um lote de 32 metros de frente, 112 metros de comprimento e 20 metros de
fundo fechando um trapézio esguio. O desnível longitudinal não passa de
2 metros, em um condomínio residencial localizado em Itu, no interior do estado
de São Paulo. A demanda programática extensa (06 suítes) permitiu reflexionar
sobre a real necessidade de certos paradigmas e abrir discussão para
transformar as tipologias de implantação bem como a racionalização do processo
construtivo. Optou-se para desenvolvimento do programa um o projeto dividido em
dois níveis: térreo (101.00) e superior (104.28).
A implantação da
casa dá-se pelas condicionantes que o terreno oferece tanto pela sua geometria
esguia e praticamente plana como para o melhor aproveitamento da insolação e
ventilação. Ela se desenvolve em dois volumes paralelos entre si dissolvendo-se
de acordo com os limites do sítio. A tensão entre esses volumes é que oferece a
possibilidade de especular sobre a implantação, bem como criar novos espaços e
ambiências. A entrada da casa reflete essa tensão espacial resultando em um pátio
de acesso e não somente a porta de entrada. No volume menor estão localizadas
as áreas de serviço da casa, como cozinha, lavanderia e espaço para empregados.
Esse volume abriga também uma garagem para dois carros e se aproxima da rua
para facilitar o acesso. Já no volume maior estão concentradas as áreas de
convívio e dormitório para hóspedes, caracterizando-se como um grande espaço
plano e horizontal. Neste mesmo volume a criação de 2 pátios internos
fracionados, subtraidos do volume da edificação, ilumina e ventila naturalmente
o espaço interior da casa e insere relações evidentes com o lugar. Trata-se de
uma releitura do pátio interno e sua tipologia de ocupação do vazio, transformando-o
em um lugar de potencial contemplativo e de experiências individuais ao criar
significado em espaços convencionais à natureza humana. Esses pátios diluem a
barreira entre exterior e interior e auxiliam na distribuição do programa.
O pavimento
superior resulta em um grande bloco apoiado nos dois pavilhões do térreo e um
pilar eqüidistante dos dois volumes.Formado por 4 dormitórios, o desenho do
pavilhão superior realça a leveza e a característica de parecer flutuar já que
necessita de poucos apoios para a sua sustentação. Essa qualidade se manifesta
claramente no espaço da sala, onde fechamentos em vidros reforçam esse
mecanismo projetual. A proposta estrutural simplifica esses apoios gerando economia
de meios para sua execução. O embasamento em concreto (vigas baldrames),
exposto e acabado 40 cm da cota do jardim, reflete essa necessidade. Mais de
95% da estrutura da casa é de vigas, pilares metálicos e laje painel. Perfis
laminados de diferentes alturas, variando entre 450mm e 620mm, e pilares de
secção quadrada 150x150mm são os elementos que formam toda a estrutura. Apenas
dois pilares (varanda e garagem), a parte do descanso da sauna e a piscina são
em concreto armado. A exposição de todos os elementos estruturais,revela a
característica da casa em aprimorar os detalhes construtivos ao mesmo tempo em
que cuida do que é necessário e
essencial.Não há nenhum elemento que se esconde, pilares e vigas transpassam
uns aos outros formando todo o conjunto. A obra se revela de maneira clara e
limpa.
No que diz
respeito às alvenarias, o fechamento da casa é de tijolo de barro aparente
assentado sem bloco cerâmico como base. Com propriedade térmica de resfriar o
ambiente, o tijolo confere identidade à residência e minimiza a necessidade de
acabamento externo, encurtando o tempo da obra ao mesmo tempo que realça uma
forte característica da região. A casa de se desenha em uma linha simples e
subtrai a necessidade de se impor ao sítio e seu entorno, ao contrário, ela
flexibiliza essa relação ao responder às condicionantes físicas e climáticas do
terreno.