“De
repente entramos na cidade tão silenciosamente como na paisagem através de uma
porta (...). Quando atravessamos a Porta San Giovanni, nos sentimos num
pátio e não na rua. Mesmo as praças são pátios e em todas parecemos abrigados”. - Walter Benjamin - Simples e
essencial são propriedades que a princípio são concomitantes e complementarias,
de propriedades próprias que se assemelham. Porém uma distinção no valor
agregado a cada termo é importante ressaltar: o simples é uma peça que carece
de ingredientes e, portanto de composição. Simplicidade tem a virtude do
imediato, da aparente facilidade perceptiva, mas que se esgota em si mesmo
encerra-se em sua própria forma. Já o essencial surge da composição de alguns
elementos seguindo certas regras, diferentes em seu conteúdo que se torna
fundamental na construção do objeto. Essencial tem a ver com necessário,
indispensável e característico e definir a casa passa pela a idéia de criar
identidade e refletir sobre a habitação contemporânea.A casa VR
01 tinha como ponto de partida ser um espaço desenvolvido em um nível somente.
O terreno de 36m de frente por 85m de profundidade possuía um declive de
aproximadamente 2,50m a partir da metade do terreno e com uma vasta e
preservada vegetação ao fundo. Como a casa deveria ser térrea a solução adotada
foi cortar o terreno de duas maneiras: o primeiro corte foi transversal e
obedece ao ponto médio da frente do lote resultando em um platô no nível 101.40.
O segundo corte foi longitudinal e configura o mesmo platô no nível 101.40 e
cria mais um no nível 98.67, preservando a densa mata existente.A partir
desse ponto a casa surge com uma regularidade geométrica de forte identidade. Dois
pavilhões de usos distintos (Dormitórios e Serviços) paralelos entre si e
dispostos longitudinalmente ao terreno, formam o espaço coletivo que se
assemelha a um pátio. Esse elemento tipológico claro, definido e intimista
serve como o centro espacial da residência que dele se desenvolve, organizando
e distribuindo todos os seus cômodos. Surge como ordenador da casa, como um
elemento que tem por objetivo criar um espaço capaz de proporcionar maior
privacidade, apresentando-se como um centro irradiador. É o espaço
psicológico, introvertido e central que ao mesmo tempo em que está aberto e
exposto propicia o caráter privado ao usuário. Um espaço de encontro, de
convívio e de relação direta com a paisagem, permitindo maior exposição da casa
à circulação dos ventos e de iluminação natural, criando um adequado
microclima. Um elemento simbólico que possui características próprias,
configurando, entre outras coisas, um espaço com ambiência sonora peculiar e de
proteção acústica possibilitando simultaneamente estar ao ar livre e
proteger-se contra as fontes de ruído externo à edificação.Como
forma de posicionar e garantir o melhor conforto ambiental, o pavilhão de
serviço é deslocado em direção à rua. É um mecanismo espacial que possibilita
que os dormitórios, orientados à melhor face, tenham a adequada incidência de
luz natural, resultando em dois blocos paralelos longitudinais, porém
desalinhados transversalmente. Esse mecanismo estimula a criação de novas
espacialidades e fornece a possibilidade que resolvê-las de maneira simples e
direta: um grande elemento conecta os pavilhões e define de forma definitiva as
zonas funcionais da residência. Trata-se de uma estrutura de 225.00 m ² em
perfis laminados e treliças metálicas apoiadas em três pilares de concreto.
Esta cobertura de 15m x 15m configura três espaços distintos: garagem, estar e
varanda e confere unidade entre eles através do forro de madeira fixado na
própria estrutura metálica. Elevada em relação aos blocos sua configuração
representa a continuidade dos espaços e simplifica a leitura da casa
transformando-a em um objeto de volumetria essencial, contundente e clara.