Comecemos pelas escolas. Dessa maneira Lina inicia sua breve reflexão sobre a escola no editorial da revista Habitat n°4, em 1956. Como não poderia deixar de ser, os argumentos da arquiteta, entre outros pontos, instigam a memória do espaço e tempo escolar, presente em cada um nós como parte fundamental da formação do caráter, e como este tempo e espaço nos acompanham ao longo da vida. Não vem ao caso analisar o restante dos argumentos presentes no editorial, o ponto a ser explorado aqui é justamente a memória espacial temporal da escola e suas implicações no projeto arquitetônico. Como nos recordamos dessa época escolar. Como são os espaços, as texturas e cores que envolvem essas memórias? Ao propor o espaço escolar, o arquiteto deve ter a habilidade conciliar as questões inerentes à arquitetura, (fluxos, tecnologia, conforto ambiental, etc.) com as questões psicológicas e pedagógicas desse espaço. A escola, nesse sentido se torna não somente um espaço onde aprendemos, mas também um espaço a ser apreendido. A multiplicidade dos espaços, diferentes níveis, transposições e variação de luminosidade, então, parte das descobertas e aprendizados dessa fase da vida, como afirmou certa vez o arquiteto Hélio Duarte “A arquitetura também é uma maneira de ensinar”.ESCOLHA DO TERRENORaros são os contextos urbanos nos quais o uso escolar não é bem vindo. Entretanto, ao se buscar uma sinergia entre escola e entorno imediato, de uma maneira na qual a escola complete o bairro não apenas no que diz respeito ao número de vagas disponíveis, mas que a sua ocupação e usos complementares criem um centro de convergência dos interesses comunitários. Que a cidade flua pelo espaço construído enchendo-o de vida. A ação de intervir no referido contexto urbano pressupõe uma busca pela melhor interpretação dos aspectos históricos, sociais e espaciais envolvidos na dinâmica da construção do lugar. O lote urbano aqui proposto, portanto, parte da tentativa de compreensão dos limites e transposições que envolvem a metrópole em questão e sua realidade periférica. Situado na porção leste de Curitiba, a poucos metros dos limites políticos e geográficos da Capital, o terreno de 20.148 metros quadrados, atualmente um vazio urbano, está à margem da cidade, dos córregos afluentes do rio Atuba e da sociedade. Uma comunidade consequente de uma dinâmica urbana que foi comum nas grandes cidades Brasileiras, que centrifugaram a parcela mais pobre da população para as margens. A partir da década de 60/70 , com a agricultura expansiva (latifúndios) os produtores menores se viram obrigados à migrar para centros urbanos maiores. Mas o controle do uso do solo urbano feito nas grandes cidades, como em Curitiba, o encareceu muito e restringiu a área em que essa população podia se instalar. Por isso, paralelamente ao crescimento de Curitiba, se desenvolveram em sua margem centros urbanos carentes de oportunidades, serviços e assistência. Esse processo, mais tarde, foi acentuado pela a instalação de diversas indústrias incentivadas pelo poder público, cuja consequência foi a migração de mais famílias para essas áreas, que se formam num processo extremamente rápido, sem qualquer planejamento tornando-se, comumente, áreas violentas, de pouca salubridade e legibilidade.Nesse contexto a presença do Estado torna-se ainda mais essencial no sentido de oferecer serviços básicos (educação, saúde, moradia, saneamento, cultura, etc.) além de infraestrutura. A construção destes equipamentos com a finalidade de suprir estas carências tem a sua importância potencializada pelo contexto, ou seja, quanto mais pobre e limitado for o contexto cultural maior é o efeito da arquitetura. Nesse contexto a presença do Estado torna-se ainda mais essencial no sentido de oferecer serviços básicos (educação, saúde, moradia, saneamento, cultura, etc.). A construção destes equipamentos com a finalidade de suprir estas carências tem um papel ainda mais evidente. Quanto mais pobre e limitado for o contexto cultural maior é o efeito da arquitetura. PARTIDO ARQUITETÔNICO E ORGANIZAÇÃO GERALA definição programática, bem como a escala do edifício, iniciam o processo de organização territorial em uma busca pela inserção do objeto arquitetônico na paisagem de modo que este não interfira significativamente no que diz respeito à ocupação, escalas das construções, mas sim no uso do espaço pela comunidade. A definição programática, bem como a escala do edifício, iniciam o processo de organização territorial em uma busca pela inserção do objeto arquitetônico na paisagem de modo que sua maior transformação diga respeito ao uso do espaço pela comunidade. A interação entre o existente e o novo, se faz, então, discreta e simultaneamente expressiva em seu significado de lugar. Esta significação é alcançada, sobretudo, pela caracterização distinta de duas grandes áreas separadas pelo corpo principal do edifício, uma grade barra horizontal orientada predominantemente para o norte, e pela relação topográfica criada. No primeiro caso, as áreas são definidas quase de forma natural, enquanto uma margeia um afluente do rio Atuba e assume sua condição ambiental estabelecendo-se como um parque linear onde são distribuídas quadras esportivas e equipamentos que estimulam a prática de esportes e lazer, a outra grande área se prolonga paralelamente à via pública e se propõe como uma grande praça urbana, local para encontros, eventos, e etc. A topografia, por sua vez, influi nas relações de público e privado, como uma maneira sutil de estabelecer um controle de acessos e ao mesmo tempo liberar grandes áreas do lote. A escavação de 2,5m de profundidade possibilita também a incorporação de algumas áreas do programa, como parte da biblioteca, banheiros, cantina, bicicletário, uma quadra (esta na cota -5m) além de ser o grande pátio de recreio. A qualidade deste espaço é influenciada ainda pela proteção dos ventos e ruídos externos.Os distintos usos da escola, se relacionam em um arranjo no qual as áreas mais públicas como biblioteca, auditório e administração estão no térreo ao alcance da comunidade, formando um embasamento sobre o qual irá se apoiar o bloco didático. Tanto o conjunto das quadras quanto o jardim de infância são volumes separados do bloco principal, o alinhamento das quadras, no entanto, permite uma leitura linear desses blocos, como se fossem um único volume. ESTRUTURANo bloco principal as cargas se distribuem em três pares de pilares, distantes 9m entre si, configurando vãos de 18m e 36m. Estes vão são vencidos com um par de treliças de 7m de altura situadas no limite das salas de aula definindo a parede lateral. Entre essas treliças uma viga invertida cruza o pátio dando rigidez ao conjunto e pendurando por tirantes os pisos da sala de aula que estão em balanço nas extremidades. A estrutura do embasamento é independente desse sistema, na administração pilares metálicos contraventados e apoiados diretamente nas fundações conformam as paredes laterais enquanto a laje superior se apoia num sistema comum de vigas que vencem um vão de 9m. Na biblioteca, devido à exigência de vãos maiores uma treliça secundária cruza o bloco sustentando a laje de cobertura e do piso intermediário, no caso do refeitório duas treliças paralelas articulados por um sistema de vigas vierendeel deixam o volume suspensos sobre o pátio, abrindo passagem para as quadras.O sistema proposto para a área esportiva suspende uma das quadras na cota 3,5m e uma cobertura para o conjunto a 12m, formando uma grande caixa apoiada em quatro pilares, este efeito ganha expressividade pela soltura da proteção lateral por um sistema de treliças verticais e um quadro que dão rigidez ao revestimento de policarbonato.Por fim, o sistema estrutural utilizado no jardim de infância separa a cobertura dos volumes internos, criando uma área de ventilação entre eles, sendo a cobertura quatro grandes panos de laje apoiados entre si e por duas linhas de pilares, 12 no total, organizados de modo que criassem balanços nas pontas e um grande pátio central, com pilares nos quatro vértices.